Tecer pensamentos escritos, e inscritos, sobre o meio digital é o propósito desta revista que chega ao seu quinto número com um conteúdo um tanto diferente. É a primeira vez que lançamos um número com maior quantidade de intervenções criativas que teóricas. Ou seja, este número cinco da Texto Digital está sobretudo marcado pelas inscrições no meio digital (são cinco as criações trazidas para esta edição de dezembro), muito embora chamamos bastante a atenção para os ensaios do crítico-artista Philippe Bootz, da pesquisadora Karina de Freitas Silva Fernández e também para a entrevista do Professor Angel-Pío Gonzáles Soto; pois estes escritos refletem acerca do espaço digital e alicerçam as diversas tentativas de entrelaçamento, artístico ou educativo, do meio digital com a literatura.
O leitor pode se perguntar o que muda com essa diferença no conteúdo. Antecipamos que se há alguma mudança ela será apenas na forma como cada leitor perceberá o conteúdo. Pois, assim como os galos de João Cabral não tecem uma manhã sozinhos, e sim no entrelaçar dos cantos, a Texto Digital acredita que apenas os nós atados a partir da co-existência entre críticos e artistas garantirão o triunfo do tecido que desejamos produzir aqui.
Essa união de vozes pela qual zelamos talvez nos remata ao projeto crítico literário que alguns pós-estruturalistas defenderam ao aproximar o trabalho do crítico ao do literato pela escritura, ou pela escrita, como preferem alguns. Se assim pensássemos, o espaço virtual inaugurado pela Texto Digital solidificaria-se num espaço de escrituras, onde as vozes dos críticos e dos poetas se entrelaçariam na tecelagem de algumas manhãs. Porém, soa-nos que essa relação voltaria as vozes dos presentes poetas e críticos aos ecos de um canto passado que já teceu muitas e importantes manhãs. No entanto, a vantagem de que gozam os escritos digitais que lançamos nesse espaço de escritura origina-se na liberdade que nossos crítico-poetas digitais têm para tecer diferentes (a)manhãs.