<REVISTA TEXTO DIGITAL>
ISSN 1807-9288
- ano 3 n.1 2007 –
http://www.textodigital.ufsc.br/
SILVA,
F. de S. Do hipertexto para o papel: kd o @cento q tava aki? Texto
Digital, Florianópolis, ano 3, n. 1, Julho 2007.
DO HIPERTEXTO PARA O PAPEL: KD O @CENTO Q TAVA
AKI?
FROM
HYPERTEXT TO PAPER: KD O @CENTO Q TAVA
AKI?[1]
Fabiana de Souza
Silva
Doutora
em Letras
Universidade
Federal da Paraíba
fabianasouzasilva@yahoo.com.br
RESUMO: O objetivo central deste
trabalho é apresentar o uso da abreviação numa perspectiva
histórico-comparativa, a fim de provar que a ocorrência desse fenômeno não é
uma criação do texto digital, mas teve início no século VI a.C. O corpus
analisado consta de trabalhos, anotações e provas, além de blogs,
e-mails e SMSs.
PALAVRAS-CHAVE: Abreviação.
Hipertexto.
ABSTRACT: The central objective of this work is
to present the use of the abbreviation in a perspective
comparative-historically, in order to prove that the incident was giving phenomenont is not a creation of the digital text, but it
had beginning in the century VI a.C. The analysed corpus consists of work, annotation and proof,
besides blogs, e-mails and SMSs.
KEYWORDS:
Abbreviation. Hipertext.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O século XX foi marcado por
revoluções lingüísticas, determinadas principalmente pelo emprego da Internet.
Dentre as novidades descobertas pelo público que a utiliza está a variedade
estilística da linguagem, que apresenta certo estreitamento de fronteiras entre
a oralidade e a escrita, propiciando formas comunicativas próprias, que
misturam signos verbais, sons, imagens e formas em movimento, modos
enunciativos do hipertexto. Para alguns professores de 2º grau, muitos alunos
têm transferido a linguagem usada no meio digital para os textos produzidos em
sala de aula, “infringindo” a linguagem exigida pela escola. Neste trabalho,
iremos investigar se os internautas, ao contrário de
estarem “escrevendo errado”, causando dores de cabeça aos docentes, estabelecem
um processo no qual as mensagens são encurtadas a ponto de serem expressas com
o menor número de caracteres possível. Para tanto, selecionamos exemplos de
e-mails, blogs e SMS’s(gêneros digitais), como também
trabalhos, anotações e provas produzidas por informantes de faixa etária, grau
de escolaridade e sexo variados, pertencentes aos estados da Paraíba, de
Pernambuco e da Bahia. Observamos que a marca principal das interações on line
remete-nos não à etimologia das palavras, mas à fonética delas.
2 HIPERTEXTO E A SIMPLIFICAÇÃO LINGÜÍSTICA
Desde os tempos mais remotos, a função precípua
da língua é comunicar. As formas de comunicação
utilizadas pelo homem ao longo de sua evolução foram as mais variadas
possíveis: o homem primitivo utilizava-se de desenhos, hieróglifos, caracteres
cuneiformes das civilizações da Mesopotâmia ou, ainda, caracteres ideográficos
sino-japoneses. Os materiais utilizados iam de paus, pedras, fios, a tecidos,
colares, entre outros, com os quais compunham palavras, frases e expressavam
idéias. No mundo ocidental, a comunicação dá-se principalmente através de
representação gráfica, cujo principal veículo de transmissão do conhecimento
humano é feito por meio do alfabeto. Seja o meio sonoro ou
impresso/digital, a mensagem deve primar por adequar seu código ao público a que
se destina. Assim, o vocabulário utilizado tende a ser mais ou menos seleto; os
períodos a variar entre simples e compostos; a ordem oscila entre direta e
indireta, e as frases a se estender de curtas a longas, a depender do
receptor/destinatário, visando à brevidade e à clareza.
Os procedimentos selecionados e ativados para
tornar o texto adequado a seu público são entendidos como processos de
simplificação lingüística. Em O século
XVIII e a noção de simplificação lingüística, Pessoa (2001) afirma que a
“Simplificação lingüística é uma habilidade inata dos sujeitos falantes de uma
língua de adaptarem seus usos para facilitarem a comunicação com aqueles que
por razões diversas teriam dificuldade de compreender certas construções”.
Mendonça (1987) diz que a
simplificação pode ocorrer em dois níveis: a simplificação do código da língua,
cuja alteração mudará o texto de acordo com regras lexicais e sintáticas[2];
e a simplificação da língua, cujo objetivo é o de tornar a proposição o mais
clara possível, com um estilo aproximado do informal. No primeiro caso temos
uma simplificação gramatical; no segundo, semântica.
3 A LINGUAGEM DA INTERNET
Lemos nas páginas históricas da humanidade as
mudanças causadas com a grande revolução do livro, desde a passagem do papiro
ao pergaminho até a invenção de Gutenberg. Mostraremos, agora, as
transformações/revoluções promovidas pela informática, em especial pela
Internet, no que diz respeito à introdução, importância e impacto desta na
linguagem e vida social, tomando como premissa um dos três aspectos destacados
por Crystal (2001), em seu livro “Linguagem e a Internet[3]”:
“Do ponto de vista dos usos da linguagem, temos uma pontuação minimalista,
uma ortografia um tanto bizarra, abundância
de siglas e abreviaturas (grifo nosso) nada convencionais, estruturas
frasais pouco ortodoxas e uma escrita semi-alfabética”.[4]
A primeira colocação a ser feita aqui é a
distinção entre texto eletrônico e hipertexto. Para tanto, adotamos a visão de
Antonio Carlos Xavier (2002), em sua tese de doutorado O Hipertexto na
Sociedade da Informação: A Constituição
do Modo de Enunciação Digital, na qual ele afirma que:
Texto
eletrônico não é necessariamente Hipertexto. Um texto que exista originalmente
em celulose, uma vez transportado para superfície digital, não passa a ser
automaticamente um Hipertexto. Antes se transforma em um texto eletrônico,
i.e., o texto impresso disponível na Web por programas que o codificam em linguagem html. Uma vez incluso na rede mundial,
dotado de hiperlinks
e acrescido de outros modos enunciativos (ícones, imagens, som) aquele texto
inicialmente impresso passa a ser, então, um Hipertexto.
Segundo afirma Béguelin
(2004, p.32),
os internautas e os usuários do SMS (Short Message Service) para os telefones móveis fazem uso de uma
quantidade de inovações gráficas basicamente por exigências externas do tipo:
rapidez e falta de espaço na tela. Para a autora, as abreviaturas também estão
presentes a fim de que os usuários atinjam o objetivo pragmático de serem
breves e rápidos em suas comunicações. Na opinião dela, alguns usuários retomam
o que caracteriza silabários micênicos e hititas, entre eles:
1.
Utilização de letras ou ideogramas com valor
fonético (rebus):
U2 = [you too]
9da10 = [novidades]
2.
Uso de símbolos acrofônicos:
ILY = [I love
You]
fds
= [fim de semana]
3.
Reutilização de fonogramas com valor silábico:
CT = [ c´était]
KD = [cadê]
4.
Recurso à ideografia:
@+ = [a plus] (que se pronuncia “a plus”,
forma truncada habitual, em francês coloquial, para “à plus tard” [5]).
+ - = [mais ou menos]
5.
Reciclagem de diversos signos para transformá-los em
componentes de ícones:
8-)) :-p =
signos não-lingüísticos os quais evocam uma pessoa que usa óculos e sorri ou um
personagem que mostra a língua, tomados do repertório de smileys ou binettes.
Podemos observar também na
linguagem da Internet o crescente uso da imagem, o que, de certa forma, nos
leva aos códices medievais[6],
nos quais predominavam as ilustrações, imagens e ornamentações (MIRANDA, 2004). Vale ressaltar,
porém, que nesses grande parte das ilustrações não tinha nada a ver com o
sentido do texto, servindo, via de regra, como mera decoração. Naquela, as
imagens e ícones em movimentos colaboram com a construção do sentido. Ou seja,
o hipertexto, modo de enunciação digital, converge VERBO + IMAGEM + SOM = HT.
3.1 A
linguagem dos e-mails
Em artigo intitulado “A linguagem dos Chats Desafia os Newbies”, Viana (2000) salienta que a rapidez da
comunicação via chat ou e-mail permite uma fluência
maior da linguagem, quase com a mesma rapidez da fala. Segundo a autora, nesses
ambientes as palavras foram abreviadas até o ponto de se converterem em uma,
duas ou no máximo três letras (não=n, sim=s, de=d, que=q, também=tb, cadê=kd, tc=teclar,
porque=pq, aqui=aki, acho=axo, qualquer=qq, mais ou mas=+).
Além da “economia” lingüística que há, ressalta ela, houve um extermínio da
pontuação e da acentuação[7],
remetendo-nos não à etimologia das palavras, mas à fonética delas (é=eh, não=naum). Na visão de Viana
(op.cit.), os internautas,
ao contrário de estarem “escrevendo errado”, parecem estabelecer um processo no
qual as mensagens são encurtadas a ponto de serem expressas com o menor número
de caracteres possível.
Veja exemplo a seguir:
Data: |
Tue, 19 Apr 2005 11:55:18 -0300 (ART |
De: |
|
Assunto: |
Livro |
Para: |
"Fabiana Souza"
<fabianasouzasilva@yahoo.com.br> |
Oi, Fabiana sei q vc é super
ocupada + gostaria
de te pedir um favor muito grande, vc teria como me conseguir o
seguinte livro: Princípios de Lingüistica Geral, Ed. Vozes, Autor: Mattoso
Câmara.Por que eu me comuniquei com outra profª e ela me
disse p começar a
ler esse livro o mais breve possível, pois ela me disse q poderia me orientar por onde eu devo ca,minhar p entrar no mestrado.Se não for incomodo
lhe poedir isso pq eu não tenho
acesso a nenhuma biblioteca e caso vc consiga eu tiro uma xerox eu leio logo e te devolvo. Vc é quem diz, tá Ok?
Agradecendo antecipadamente, M
3.2 A linguagem do SMS
Conforme lemos no site telemóveis.com, devido à
medida de economia nasceu a tão falada linguagem abreviada de SMS que, segundo
eles, tantas dores de cabeça tem dado aos professores de 2º grau por esse mundo
afora, visto que muitos alunos têm transferido essa linguagem usada no celular
para os textos produzidos em sala de aula, “infringindo” a linguagem exigida
pela escola, a padrão. O êxito das mensagens entre os jovens tem sido tão
grande que, segundo afirma Benedito (2003), essa geração já está sendo chamada
de geração das teclas ou a “geração do polegar”. Vale ressaltar que, segundo
lemos em Crystal (2005:91), o fato de os mais jovens
abreviarem palavras nas suas mensagens, seja através das técnicas de rébus (b4 = before), seja através
de indicações fonéticas (thx = thanks),
ou através de abreviações (imho = in my humble opinion),
não é novo ou fundamental. Segundo ele, as
pessoas vêm usando abreviações há gerações, e os jogos de rébus
há muito são encontrados em revistas de palavras cruzadas. Observe os
exemplos abaixo:
SMS: “A realidad eh q ñ te amo c/ meus olhos q
descobrem em ti mil falhas, + c/meu coração,
q ama o q
eles desprezam e apesar do q vê adora se
apaixonar!!!”
SMS: “Qd eu der 1 tok coloca o chip daí
e me dá 1 tok q eu ligo, blza? 1 xero.”
3.3 A linguagem dos blogs
Geralmente a linguagem utilizada no blog está diretamente relacionada com o seu
propósito e/ou com o estilo lingüístico de seu criador. Ou seja, um blog de cunho científico apresenta, via de
regra, uma linguagem de acordo com o tema abordado e o público leitor. Já um blog criado por um adolescente retrata uma
linguagem com um código bastante particular, caracterizado por abreviações e
pela utilização de novas formas de escrever velhos termos, gerando senão uma
imitação, pelo menos uma espécie de inovação nas abreviações outrora
existentes. No primeiro caso, temos vocábulos como beleza, porque, tudo, você, também e não que sofreram drásticas reduções e passaram a ser escritos,
respectivamente, blz, pq, td, vc, tb
e ň. No segundo caso, temos
palavras do tipo não, falou, então, até,
é e né que, ao contrário das citadas
anteriormente, sofreram acréscimo de um elemento em sua forma original e
passaram a ser escritas naum, falow, entaum, ateh, eh,
neh[8].
A seguir, apresentamos um modelo de blog:
BLOG: 15/11/2005 12:45
...começando outro blog depois d mto tempo...primeiro post eh sempre uma merda, eu nunca sei oq escrever, mas jah q a Poleti insistiu, aki estou eu..alias,eu soh fiz outro blog pq vc praticamente mandou, vc gosta d ficar fuçando na minha vida neh sua vaca uahuahauhauhauhauhauahbom, fim d semana,pra variar, sai com a Mary e com a Li pra beber, mas dessa vez eu naum fikei bebada, milagre! Hihihi ontem eu passei o dia td assistindo filmes q eu jah tinha visto pelo menos umas 2 vezes e comendo pipoca... foi mto bom hihih e hj eu naum fiz nada.. to tomando coragem pra fazer uns trabalhos da escola, mas falta vontade........ aaahhhhhh eu qro férias!huuummmm num tem mais nada pra escrever eu acho.. num to inspirada hj..bom, esse post eh pra POleti linda....bjus miga, to com mta saudade viw, te adoro demais!bjusss pra tds!e antes q alguem fale sobre o blog gótico, eu coloquei esse soh por causa da cor tah Diego seu inutil! Uhauahauhauaha.
4 DO HIPERTEXTO PARA O PAPEL: KD O @CENTO QUE
TAVA AKI?
O uso de formas escritas apresentando marcas da
oralidade é um aspecto observado na linguagem utilizada nos novos gêneros
digitais – e-mail, blog sms-,
em especial pelos adolescentes. É bem verdade que há aqueles que escrevem
utilizando uma linguagem mais formal, fazendo uso de acentos e pontuação, mas o
que predomina é a presença de uma escrita abreviada, aproximada da pronúncia,
uma espécie de semi-oralidade.
Segundo o site www.saladeaula, alguns professores de Língua Portuguesa de colégios de São Paulo
defendem que a formalidade deve ser preservada, uma vez que o conteúdo é
acessado pelos mais variados públicos. Na opinião deles, quando se tratar de um
texto de pesquisa, o estilo formal deve ser preservado. Porém, quando o
conteúdo for informal e restrito ao grupo, a escrita utilizada pode ser a que
apresenta as particularidades do texto cibernético. Na visão do lingüista Bagno, os adolescentes devem expressar-se livremente, já
que não é nesse contexto que eles irão aprender ortografia e gramática. Para o
autor, o blog nasceu com os jovens e o espaço desse
gênero deve ser reservado para os adolescentes (www.saladeaula.com.br). Na opinião de Crystal (2005:92), deve-se ensinar às crianças que as
abreviações nas mensagens de texto, onde o espaço é pequeno e a rapidez um
fator crítico, desempenham uma função útil, mas não em outros lugares. Diante
desse fato, surge um dilema de se corrigir ou não a grafia de tais palavras.
No site www.folhanet.com.br, a idéia central do uso das abreviações está associada à economia
de tempo ou de espaço. Daí o fato de a abreviação dever constar apenas da
metade ou menos da metade da palavra original, do contrário, é melhor
escrevê-la por extenso, o que está de acordo com o que diz Houaiss
(1983): não convém abreviar quando o princípio da economia é insignificante.
Ainda nesse
site é ressaltado o cuidado com o uso abusivo das abreviações, não devendo
estas constar em provas, trabalhos, artigos ou redações, mas apenas em
anotações de uso pessoal.
Entretanto,
a realidade da sala de aula tem-nos mostrado o inverso. Embora lentamente,
porém de forma constante, os alunos transferem o código utilizado no texto
digital, via de regra informal, para a sala de aula, apresentando uma escala
que vai da simples anotação da fala do professor, perpassa o trabalho acadêmico
e já apresenta indícios até mesmo nas provas e redações de vestibular, conforme
vemos a seguir:
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS
DISCIPLINA: LINGUA PORTUGUESA II
ALUNO(A):
AVALIAÇÃO DA UNIDADE I
1º) Classifique em vogal temática, desinência
de gênero, ou atemáticos os elementos destacados:
“Se nós, na
hora em que estávamos roendo o osso, fizemos tudo isso que fizemos, agora eles
querem comer o filé mignon que colocamos na mesa?
Não! Vão ter que roer o osso.”(Luiz Inácio Lula da Silva) .
2º) O vocábulo abaixo apresenta flexão,
derivação, os dois ou nenhum? Por quê?
“Não vou
bater boca com empregadinhos do presidente Lula. Prefiro esperar para bater
boca com o patrão deles.” (Heloísa Helena).
3º) Classifique em formas livres, formas presas
ou formas dependentes os termos a seguir:
“Nem que
o governo arriasse as calças não haveria espaço para novas desonerações”
(Júlio Gomes de Almeida).
4º) Comente as opiniões de Mattoso e de
gramáticos quanto aos femininos abaixo:
Boi – vaca
Bode – cabra
Cão – cadela
5º) Diga como se dá a identificação de plural
nos nomes:
Lápis
Pires
Tênis
Ao que
parece, embora não seja algo assustador e, a princípio, preocupante, faz-se
necessário um esclarecimento e alerta por parte dos docentes quanto ao uso restrito
e específico da linguagem da internet, particularmente da abreviação.
Segundo Marcuschi
(2002), “quando dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma
lingüística e sim uma forma de realizar lingüisticamente objetivos específicos
em situações sociais particulares”. É
o que fazem os autores supracitados quando adequam/moldam
a sua linguagem ao gênero por elas utilizado, a fim de se identificarem naquela
comunidade (no caso, a dos internautas).
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise dos textos considerados,
podemos inferir que, apesar do caráter variável do fenômeno da abreviação, a
linguagem utilizada pelos produtores de e-mails, blogs
e smss apresenta uma relatividade no que diz respeito
ao princípio que norteia a escrita nesses meios: regular a escrita pela fala,
utilizando a fonética para insinuar a ortografia.
Apesar de os autores dos textos serem de níveis
de escolaridade, sexo e faixa etária variados, nota-se muita identidade quanto
às palavras que sofrem redução e à forma como essas são reduzidas. Assim, quer
se trate de homem ou mulher, estudante do 2º grau ou universitário, jovem ou
adulto, o recurso de escrever de forma abreviada é bastante utilizado.
O número de ocorrências de abreviação é maior
nos gêneros digitais (e-mail, blog, sms) que nos tradicionais (anotações nos cadernos,
trabalhos e provas).
Os alunos associam a presença de formas
abreviadas ao fator economia, seja de tempo ou de dinheiro. Esta encontra-se
diretamente relacionada à quantidade de tempo que se gasta conectado à internet
(no caso dos e-mail e blog) e à quantidade de
mensagens enviadas pelo celular (no caso do sms/torpedo/mensagem
de texto).
No caso das anotações dos cadernos, todos são
categóricos em afirmar que o fazem mediante a necessidade de acompanhar aquilo
que o professor dita ou escreve. Ou ainda, alegam sofrer influência da tela do
computador ou do celular, quando das mensagens ali produzidas. Eles são
unânimes em dizer que se policiam bastante no intuito de não confundirem os
ambientes de produção textual, a fim de não “infringirem” as normas
estabelecidas para cada um.
Outro fator responsável pela abreviação é a
finalidade a que se destina o texto. Em se tratando de uma produção textual de teor
informal, quer seja o gênero digital ou não, a tendência é escrever de forma
abreviada, ao passo que numa situação por natureza formal – a exemplo de
redações, provas, trabalhos etc, busca-se não lançar
mão desse recurso, adequando a linguagem/ escrita às normas exigidas pela
situação.
Em suma, podemos concluir que, embora presente
na maioria dos textos produzidos pelos informantes arrolados, o uso de formas
abreviadas é específico da tecnologia digital, e quando nos textos
convencionais – cadernos, trabalhos, provas - o número de ocorrências é
restrito e esporádico, não havendo, portanto, razões para um maior temor no que
diz respeito à não-preservação do estilo formal.
REFERÊNCIAS
BÉGUELIN, Marie-José.
Unidades de língua e unidades de escrita: evolução e modalidades da segmentação
gráfica. In: FERREIRO, Emília. Relações
de (in)dependência entre oralidade e escrita. Porto Alegre: Artmed, 2004.
BENEDITO, J. Dicionário para chat,
SMS e e-mail. Colecção de bolso. Portugal, 2003.
CRYSTAL, D. A revolução da linguagem. Rio de
Janeiro: J. Zahar, 2005.
_______. Language and the
Internet.
HOUAISS, A. Elementos
de bibliologia. São Paulo: HUCITEC, 1983.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros
textuais emergentes e atividades lingüísticas no contexto da tecnologia digital. Mimeo.
Apresentado na 50º REUNIÃO ANUAL DO GEL (Grupo de Estudos Lingüísticos de São
Paulo) 23-25 de maio de 2002, São Paulo: USP, 2002.
MARTINS, W. A
palavra escrita. 2.
ed. São Paulo: Ática, 1996.
MENDONÇA,
N.R. de S. Desburocratização lingüística: como simplificar textos
administrativos. São Paulo: Pioneira, 1987.
MIRANDA,
Maria Adelaide. Hipertexto e medievalidade. Apresentado no seminário
Enciclopédia e Hipertexto, 2004.
PESSOA,
M.de B. O século XVIII e a noção de simplificação lingüística. In: Século XVIII: século das luzes. Século
de Pombal. BIBLIOTECA LUSO-BRASILEIRA. FRANKFURT, 2001.
VIANA, Melissa Elias. A linguagem dos chats
desafia os newbies. Disponível em <http://www.internewwws.eti.br/2000/mt000722.shtml.>.
2000.
XAVIER, A. C. O hipertexto na sociedade da informação:
a constituição do modo de enunciação digital. Campinas, 2002.
PÁGINAS DA WEB CITADAS
www.jb.com.br(jbonline.terra.com.br/destaques/bienal/entrevista).
<REVISTA TEXTO
DIGITAL>
[1] Portuguese
internet language for: “Cadê o acento que estava
aqui?” – Where is the accent that was here?
[2]Através da substituição de palavras polissílabas
por outras menores; de palavras pouco usuais por aquelas que sejam do léxico do
leitor; da voz ativa em vez da passiva, e evitar intercalações (MENDONÇA,
1987).
[3] Segundo o Dicionário Houaiss
da Língua Portuguesa, Internet s.f. (s XX) INF TEL rede de computadores dispersos
por todo planeta que trocam dados e mensagens utilizando um protocolo comum,
unindo usuários particulares, entidades de pesquisa, órgãos culturais,
institutos militares, bibliotecas e empresas de toda envergadura.
[4] Não seria o caso aí, de escolha lingüística
ou, como salienta Marcuschi (2002), temos, em termos
lingüísticos, uma língua escrita não-monitorada, não submetida a revisões,
expurgo ou correções. Em outras palavras: uma linguagem em seu estado natural
de produção.
[5] Béguelin (2004)
afirma que o recurso de abreviações fonográficas é freqüente na língua
francesa.
[6] Com o advento da imprensa houve a separação
do espaço verbal e imagético.
[7] A origem “imperialista” do não uso de
acentos em mensagens eletrônicas está no fato de as primeiras plataformas de
computadores, chamadas UNIX, suportarem apenas os primeiros 127 caracteres, e
os acentos e a cedilha começam a partir do número 128. Além disso, toda
economia era preciosa antigamente, já que os computadores tinham o disco rígido
muito menor e a transmissão era muito mais demorada (VIANA, 2000).
[8] O caso de falow foge à regra, uma vez que a palavra não sofreu nem redução nem
acréscimo de elemento em seu conjunto. Já o ateh, o eh e o neh passaram a representar o sinal gráfico do acento com a letra h.